letras narradas | 24.11.2006 | velhos e crianças

velhos e crianças

Não há como não amar velhos e crianças.
Eles são iguais, apenas invertidos em suas andanças.
São eternos e ternos, merecem atenções e mimos.
Guardam segredos parecidos, máximos e mínimos.
O mesmo lugar de onde um vem, o outro vai também.
Eles sabem disso, além do além, de qualquer ninguém.
São cúmplices da mesma supra verdade, sem idade,
refletindo suas lembranças, seus sonhos, lado a lado,
nesse espelho tempo, assim chamado.

letras narradas | 24.09.2006 | Mentira

Mentira

Escrevo primeiro para mim, depois para o outro.
E nessa espécie de egoísmo, que permite contrários, me doo inteira e completamente, a mim mesma e a quem quiser me ler, qualquer que seja, revertendo o sentido do que é óbvio e conhecido, reinventando sensos e aceitando contrassensos, achados e perdidos.
Escrevo, comumente, como pessoa comum. E para o comum especial de qualquer um.
Escrevo o que se projeta no tempo e no espaço da minha mente.
Mente, mentira. Será a mente o tempo e o espaço da mentira?
Eu invento, não minto. E posso reinventar a mentira, na maneira que a sinto.

letras musicadas | 22.09.2006 | Que seja


Que seja
letras marcia david | melodia beto bianchi
 

Que seja vago sem ser em vão.
Que seja belo sem ser padrão.

Que seja assim sem ser assado.
Que seja hoje sem ser passado.

Que seja o raro sem ser perfeito.  

Que seja claro sem ser mal feito.
 

Que seja exemplo sem ser o mesmo.
Que seja templo sem ser a esmo.
 

Que seja livre sem ser perdido.
Que seja amado sem ser fingido.


Que seja louco sem ser falido. 
Que seja estalo sem ser gemido.
 

Que seja busca sem ser azar.
Que seja sorte sem ser a par.
 

Que seja mudo sem ser fechado.
Que seja tudo sem ser estrago.
 

Que seja o mar sem ser esgoto.
Que seja o ar sem ser arroto.
 

Que seja encontro sem ser difícil.
Que seja paz sem ser o míssil.
 

Que seja forte sem ser o duro.
Que seja casa sem ser o muro.
 

Que seja sempre sem ser senão.
Que seja o lar sem ser só chão.
 

Que seja igual sem ser a cópia.
Que seja a fala sem ser imprópria.
 

Que seja eterno enquanto dure.
Que seja mesmo e que perdure.

letras narradas | 23.08.2006 | Segredos


Segredos

Vou revelar um segredo.
Eu não revelo segredos.
Mas não revelar segredos, não é mentir, nem omitir, é direito.
O direito do oculto, processo particular de vivenciar um efeito.
Que nem é defeito, nem faço direito.
Nem tudo que faço, longe de ser perfeito, é mesmo um feito.
Suspeito... mas aproveito, não tem outro jeito.
Eu deleito.

letras poemisadas | 21.08.2006 | Canastrices

Canastrices

E o que somos afinal nessa história com h?
Que verdade nisso há?
Canastras, canastrinas, canastrinos, canastrões, canastronas...
Caquis, laranjas, chuchus, bananas, peras, mamonas.
Frutos da farsa, da cópia, de saturadas atuações, aos milhões.
História deveria ser sempre escrita com E.
Nunca a que se inventa, nunca a que se quer, nunca a do querer.
Dramas, terrores, comédias, amores, meiguices, tolices, mesmices.
Saladas de frutos, saladas de frutas.
Deliciosas canastrices.

contato

letras narradas | 21.08.2006 | Canastrices


Canastrices

E o que somos afinal nessa história com h?
Que verdade nisso há?
Canastras, canastrinas, canastrinos, canastrões, canastronas...
Caquis, laranjas, chuchus, bananas, mamonas.
Frutos da farsa, da cópia e de saturadas atuações, aos milhões.
História deveria ser sempre com E.
Nunca a que se inventa, nunca a que se quer.
Dramas, terrores, comédias, amores, meiguices, tolices, mesmices.
Saladas de frutos, saladas de frutas.
Só canastrices.

letras narradas | 19.08.2006 | baratas e clarices

baratas e clarices

Ah, as baratas... Nunca são caras, as baratas. Resistentes e baratas. Penso em clarices.
Baratas não voam. Além do quê, sempre destoam. Mas, surpreendentemente, me fazem divagar e disso gosto. São fortes, não se extinguem assim tão fácil, freqüentam lugares sombrios, inatingíveis, secretos. Muitas vezes escapam, quando tudo era quase vitória. Baratas são fugidias, não enfrentam. Mais que isso, as baratas somem e de repente aparecem de novo, do nada. São covardes, mas usam sua covardia como defesa. Presenças que ainda ficam quando se vão. São por tudo isso mesmo, seres misteriosos. Vivem em mistério. E os mistérios são possibilidades inúmeras. A maior delas, a própria possibilidade de desvendá-los. Desvendar, apenas, desvendar. Será que um dia desvendaremos o mistério das baratas? Será que um dia desvendaremos os mistérios, um por um, até que a clareza excessiva nos cegue novamente?
Haja clareza, hajam clarices...
(uma grata reverência à Lispector)

letras musicadas | 14.08.2006 | Tudo

Tudo

Tudo tenho.
Eu me empenho.
Tudo faço.
Meu próprio traço.
Tudo vemos.
Nunca é de menos.
Tudo em paz.
E muito mais.

Tudo rola.
E me consola.
Tudo brota.
Estou na rota.
Tudo calo.
Enquanto falo.
Tudo vira.
Se erro a mira.

Tudo vai.
E me distrai.
Tudo vem.
Não é desdém.
Tudo quero.
Até o zero. 
Tudo teço.
E agradeço.

 

letras musicadas | 14.08.2006 | Revisitada

Revisitada
letras marcia david | melodia beto bianchi

Estou estranha.
E não é manha.
Ainda é noite na minha manhã.

Estou calada.
E não é nada.
Me sinto meio tonta, mas estou sã.

Louca, descabelada, agravada, atrapalhada.
Rouca, destrambelhada, desajustada, desconcertada.
E mais nada, não tenho nada.
Me sinto bem assim meio estragada.
Recompensada, remixada, revisitada.
E muito amada.

letras musicadas | 01.08.2006 | Peixe fora d'água

Peixe fora d’água
letras marcia david | melodia beto bianchi

Te pergunto todo dia:
Tá com fome...
Quer jantar?

Te percebo todo dia:
A sua calma
Ou o que é que há?

Te desejo todo dia:
Assim mesmo
O que rolar.

Eu te aproveito, enquanto dá.
Coisa rara...sei preservar.
O inusitado a conquistar.
Peixe fora d’água a nadar...